quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Nem te conto da Amélia moderna


Resignada no antro do lar, não estuda, não trabalha e nem cresce. Nem pretende, só finge e incha.  A falsa mulher de verdade abdica cinicamente da vidinha medíocre para viver apedrejando as alegrias alheias e catando as flores dos amores dos outros, murcha de inveja.

Oh, inventor da máquina de lavar! Que triste sina tu trouxeste à minha cara amiga Amélia. Moderna - o marido comprou-lhe tudo e compra-lhe o que bem quiser (desde que caiba mais uma prestação no cartão). Graças a ti, falecido (que Deus o tenha), sobra tanto tempo para que ela, depois de jogar os grudes fétidos dentro do instrumento, viva no ócio e do ócio se revista. Agora os panos e roupas de cama, toalhas de mesa, vestes da casa são lavados mecanicamente. Amélia se esquecera da própria podridão.

À Amélia que conheço, sobra vaidade, sobra salto, sobressalta no lar. Até passa fome ao lado do trouxa, pode até achar bonito como aquela da canção, mas pra comprar um bom sapato em trocentas suaves prestações. Reuniões de amigos, rodízios de veneno de cobras e festinhas são garantidas, desde que haja um fato ou um boato a se espalhar,  desde que haja uma ceninha de falsas falas e lágrimas desocupadas. Hipócritas.

Triste de quem cai na imensa língua da Amélia, monstro das invenções, criatura criadora de fantasmas e intrigas. "Nem te conto". E conta, e conta, incontáveis estórias... Depois, quase convence no papel de coitada.

Quem dera os demônios cantassem essa Amélia e a fizessem vapor na garoa, fumaça do inferno para nem ao capeta atormentar.

Obs. Caros leitores, qualquer semelhança não será mera coincidência - quiçá, peso da consciência.