sábado, 15 de fevereiro de 2014

O louco


“Eu prefiro um galope soberano/ À loucura do mundo me entregar” (Zé Ramalho)

Se me chamam louco, insano, se me apontam
Se me acusam diferente do que são
Se também os meus delírios te espantam
Porque sei que há no mundo uma distorção

O meu nado vai contrário a correnteza
O real é mais complexo que parece
O meu mundo é sem espaço pra vileza
E o louco que em mim mora nunca esquece

Da atroz selvageria do teu mundo
Que é normal em toda sua crueldade
Este orbe que acaso eu circundo

Quer tirar o meu sentido de viver
Fiquem certos de que nesta realidade
Para o louco abrir os olhos é morrer!

(Yvanna Oliveira)

Janelas



Aos fins de tarde
O vento assobia
E a poeira unida
Entoa uma canção
Que soa amor
Vazio
E melancolia

Nas noites insones
Um cão abandonado segue
E uma coruja triste
Espreita por trás da cortina
O casal de amantes
E sua dança fúnebre
Amar é morrer
Um pouco a cada dia
E todo dia renascer

Quando o dia
Já se quer manhã
O primeiro raio adentra
Num toque suave
Beija a face
Da mulher adormecida
Sem disfarce, nem encanto
Sem pudor
Um raio de luz tem tanta força
Que enche de fantasia
O que por trás da janela
Carece de brilho
Padece de realidade.

(Yvanna Oliveira)