Quando a luz se apaga
e o frio da noite toca-me a pele
sinto meus pés descalços
caminhando sobre as pontas
no labirinto que há em mim
ouço óperas melodramáticas
ora acordes, ora vozes
choro e sorrio com os espelhos
ando numa plataforma deles
e os vejo refletidos nas paredes
-não se pode fugir-
milhares de mim se espalham
e olham intrigadas outras milhares.
"(...)Como nos sonhos,
ResponderExcluiratrás do rosto que nos contempla não há ninguém.
Anverso sem reverso,
moeda de uma única efígie, as coisas.
Essas misérias são os bens
que o precipitado tempo nos deixa.
Somos nossa memória,
somos esse quimérico museu de formas inconstantes,
essa pilha de espelhos rotos."
(J.L.Borges)
LABIRINTO
Não haverá nunca uma porta. Estás dentro
E o alcácer abarca o universo
E não tem nem anverso nem reverso
Nem externo muro nem secreto centro.
Não esperes que o rigor de teu caminho
Que teimosamente se bifurca em outro,
Que teimosamente se bifurca em outro,
Tenha fim. É de ferro teu destino
Como teu juiz. Não aguardes a investida
Do touro que é um homem e cuja estranha
Forma plural dá horror à maranha
De interminável pedra entretecida.
Não existe. Nada esperes. Nem sequer
A fera, no negro entardecer.
(J.L.Borges)
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Fiquei assombrado ao ler "Reflexos" pela primeira vez...
Perdoe-me a comparação,Poeta. Mas ao ler o teu poema tão cheio do simbolismo e do arquétipo do "ser perdido em si mesmo", do qual Jung analisára e J.L.Borges tanto apreciava.
A comparação que faço é apenas quanto ao tema abordado pelos dois Poetas e não quanto ao estilo, tão diversos que são.
Foi quase inevitável lembrar daqueles dois autores, principalmente Borges que tanto escreveu sobre labirintos e espelhos, sua metáfora favorita para esta experiência do vagar perdido em um labirinto da própria mente: o inconsciênte. O sonho.
Encerramos uma besta num labirinto de mil voltas, mas de vez enquando queremos olha-la de perto, esta besta é o que Jung chamou de sombra (nossos eus reprimidos) e o labirinto é a nossa própria mente, nossa prisão, da qual não podemos fugir.
O espelho, que nos mostra mais do que a nossa própria imagem, nos revela todos os dias aqueles eus que somos e os eus que não queremos ser...
Um labirinto feito de espelhos que refletem outros milhares de espelhos e "multi-refletem" outros milhares de eus.
Nos sonhos somos inquestionavelmente múltiplos, e nos espanta a nossa multiplicidade quando estamos despertos. Pois como disse a Poeta
"-não se pode fugir-
milhares de mim se espalham
e olham intrigadas outros milhares."